segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Devir

Se no seu peito brada um coração faminto
Na inquietude do misto ódio e amor
Se o seu corpo balança, estremece, acorda e adormece
Na dança inebriada que fulgura a própria vida
Se a sua alma vaga no intrínseco labirinto do seu ser
Verte suas lágrimas de emoção
E grita aos quatro cantos do mundo
Com o regozijo de quem tem o poder dos camaleões
Grita, depois fica mudo
Veste-se, depois fica desnudo
Que a Terra gira
Que a chuva vem e vai a todo instante
Que o Nilo é tão belo sendo a cada milésimo de segundo outro
Pois os rios correm e nunca são os mesmos

(Jorge Rêgo)

Amanhã

O amanhã está chegando
E vai ser a hora de traçar um novo plano
Cortar o cabelo
Fazer a barba
Sair de casa
Procurar um emprego
Ou sentar na velha cadeira da sala
E fazer as poesias que ainda não foram feitas
Amanhã é dia de andar, correr, mudar...
Mudar de rumo, de vida, de lugar
Amanha é o grande dia
Hoje não...

(Jorge)

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

O pacto

Eu ainda era mui pequenino
Quando me atiraram numa vala imunda e fedida
Zombaram do meu corpo nu, e depois gritaram:
- Lar, doce lar, bem vindo à vida!

Bastardo que sou, compreendi logo as manhas deste jogo insalubre
Cresci com os dois pés atrás e um olho nas costas
Tentaram me civilizar, chamaram-me de bárbaro
Já me tinham como a ínfima natureza morta

Fui conduzido a uma espécie de Termas de Trajano
Onde a água límpida brotava de uma fonte caudalosa
Mas por detrás desta aparente estadia havia o inferno
E vi o próprio satanás me tentar com as promessas mais prodigiosas

Resolvi aceitar o tal catecismo
Minha alma vagou nas cavernas insólitas, fui ao abismo profundo
Desde então tenho me deparado com a estranha sensação
De que não pertenço mais a este mundo

(Jorge)

Que coisa? Que coisa?

Quero ser uma planta, ou talvez não...
Pensar se tornou meu infortúnio diário
Nego-me a cada espaço de tempo, por menor que seja...
Depois procedo de forma contrária
Navego de um pólo a outro
Com a orientação de uma agulha magnética quebrada
Sigo os mapas das estrelas
Que mais uma vez, não me dizem nada
Se não há nexo no que digo
Talvez eu queira dizer-lhes outra coisa
Que coisa? Que coisa?
Por vezes se diz muito mais nas poesias insossas

(Jorge)